Do dia em que comecei trabalhar falando sobre cinema, uma das muitas expressões que tento não usar em minhas críticas e resenhas de filmes é o tão falando “não deve ser levado a sério”. Além de ser degradante em um contexto geral, acaba também desvalorizando o trabalho de diversos profissionais envolvidos. Infelizmente, o gênero comédia é o alvo da grande parte desse tipo de comentário. Primeiro porque são filmes descompromissados com o “gênero cinema arte”, e depois a função deles é obter o rizo do espectador. Como já disse antes, em alguma outra crítica sobre comédia, fazendo o público rir ele já conquistou o objetivo final. Pensei muito nisso quando fui hoje assistir ao filme “Os Penetras”, nova comédia nacional estrelada por Marcelo Adnet, conhecido por seu trabalho como humorista na MTV Brasil, e o estreante nos cinemas Eduardo Sterblitch, humorista do programa Pânico.
Dirigido por Andrucha Waddington (“Casa de Areia”, “Eu Tu Eles”), o filme nos conta quando Beto (Eduardo), rapaz inocente vindo do interior para a cidade grande atrás de um grande amor, e Marco Polo (Adnet), um canastrão aproveitador e mulherengo, se conhecem após a tentativa de suicídio do primeiro. Marco na promessa de ajudar Beto voltar aos braços do amor de sua vida, Laura (Mariana Ximenes), acabam entrando de bicão em diversas festas e eventos sociais no Rio e constituindo um possível triangulo amoroso.
Já algum tempo a Globo filmes vem investido na produção de comédias nacionais, essas que já estão virando quase uma tradição, como são as novelas da emissora. “Até que a sorte nos Separe”, “E aí, Comeu?”, “De pernas para o Ar”, “Muitas calma nessa hora”, “Se eu fosse você”… os títulos já chegam ao esquecimento de tantos que já passaram pelos cinemas. Comédias são sempre produções baratas, e como presenciamos com os lançamentos desse ano, sempre trazem um excelente retorno financeiro. Nisso, a busca por uma boa história, ou até querer fazer um bom filme fica em um segundo plano.
A fórmula é a seguinte: pega alguns atores reconhecidos pelo público por causa das novelas, acrescente algum humorista em ascensão que está sendo bem explorado na TV e que o público irá identificar, acrescente um roteiro descompromissado com algumas boas piadas e outras que sejam feitas através do improviso com o talento do humorista, faça uma boa campanha de marketing e pronto, o dinheiro nas bilheterias é garantido. Mas infelizmente a qualidade cinematográfica fica em segundo plano.
Não é à toa que na cabine destinada à imprensa estavam presentes alguns humoristas da TV prestigiando o trabalho dos colegas. É questão de tempo até que eles sejam convidados pela poderosa rede para protagonizar uma comédia nos cinemas, basta ficarem mais conhecidos e levarem seus trabalhos até o grande público. A próxima humorista (ótima humorista por sinal) que estará nas telas é Tatá Werneck que pelo trailer será a grande atração do filme “De Pernas para o Ar 2”.
Muitas das sequências que pude presenciar em “Os Penetras” me fizeram perceber que foram adicionadas ao roteiro de última hora. “Conseguimos um avião para gravar? Ótimo, chama o roteirista e pede para ele acrescentar uma cena qualquer que tenha avião para que possamos usa-lo”, essa é a impressão que as comédias atuais me passam.
Admito que quando chego à sala de projeção para ver essas comédias que marcam um novo período na história do cinema nacional, vou com quatro pedras nas mãos e algumas na mochila, mas quando começam os filmes acabo me entregando e entendendo as limitações que os diretores, produtores e atores tiveram para poder executar o trabalho. Por isso, acabo sendo dobrado quando tento analisar um roteiro, ou uma direção de fotografia bem feita, ou até mesmo as atuações, pois não é essa a meta que o filme está me proporcionando. Ele quer que eu ria. Quer me entreter independente se eu perder 10 minutos de filme levando meus pensamentos para longe e depois voltar novamente minha atenção, conseguirei de qualquer forma entender o que a história se trata sem perder nada.
Em “Os Penetras” ainda acabei um pouco surpreso ao ver que Eduardo Sterblitch conseguiu tirar aquela imagem de seu personagem Fred Mercury Prateado, e conseguiu fazer o papel de um rapaz inocente que vai caindo na real com o tempo. Com raras exceções de quando ele resolve mudar sua voz afinando-a, mas obviamente foi proposital, afinal, quem vai assistir ao filme irá procurar piadas do mesmo estilo que o humorista faz em seu programa.
Ainda estamos longe de produzir aqui no Brasil uma comédia bem elaborada como “Pequena Miss Sunshine” ou até mesmo “Ted”, pois o que a Globo realmente quer é seu dinheiro, e, enquanto as comédias globais estiverem fazendo sucesso, não tenha dúvida de que elas continuarão sendo lançadas. Não irei me surpreender se ano que vem tivermos uma sequência de “Os Penetras”, ou até mesmo uma série, pois a fórmula do roteiro funciona muito bem, o elenco é querido pelo público, e certamente irá render muito dinheiro nas bilheterias. Quando for assistir a um filme de comédia, principalmente as globomédias nacionais iguais aos “Os Penetras”, vá já sabendo que o objetivo ali não é fazer um filme de verdade, e sim uma extensão do humor já realizado na TV brasileira e fazer você rir com algumas horas descompromissadas, porém levadas à sério com o trabalho de diversos profissionais.