César Rodrigues é o diretor da primeira co-produção da Disney no Brasil. Formado em Comunicação pela Universidade Gama Filho (RJ) e com formação de ator pela Casa de Arte de Laranjeiras, ele também traz no currículo dois episódios do elogiado seriado “Filhos do Carnaval” (HBO).César também dirigiu o seriado “Um menino muito Maluquinho” para a TV Brasil, que foi exibido no “Disney Channel” e acumulou prêmios internacionais, como o Prix Jeunesse 2007, em Munique, e o NHK Prize, no Japão.
ENTREVISTA COM CÉSAR RODRIGUES
Como você entrou no projeto?
Em meados de 2008, Walkiria Barbosa, da Total, produtora do Filme, me procurou e fez o convite. Aceitei imediatamente.
Qual foi sua formação?
Em parceira com o ator e diretor Roberto Bomtempo, montei a Companhia Movimento Carioca de Teatro Juvenil em 1988. Paralelamente, comecei a fazer assistência de direção em publicidade e cinema e direção em televisão.
Como a série de filmes “High School Musical” foi referência?
Referência absoluta no que diz respeito ao acabamento, elaboração e comprometimento com o universo lúdico que faz parte de todos os projetos cinematográficos da Disney. A descoberta da paixão, de sentimentos novos e intensos. A importância do comprometimento com as amizades. Valores universais, comprovados pelo sucesso do filme americano em todo mundo.
Como foi trabalhar com um elenco tão jovem?
Apaixonante e desafiador, assim como a alma de todo jovem sonhador. Durante 30 ou 40 dias, eles se dedicaram intensamente aos ensaios de voz, corpo, interpretação, dança, canto. Muito treinamento, muita repetição e dedicação sem fim. Sempre no maior alto astral, muita confiança e – acima de tudo- competência de todos os profissionais reunidos em torno destes jovens talentosos, que foram se lapidando dia após dia durante todo o processo.
Guto Graça Mello (Direção Musical): Como produtor musical, foi responsável por mais de 350 discos ao longo de sua carreira, tendo trabalhado ao lado de artistas como Roberto Carlos, Maria Bethânia, Milton Nascimento, Rita Lee, Elis Regina, João Gilberto, Caetano Veloso, Sandra de Sá, Alceu Valença, Elba Ramalho, Gilberto Gil e Gal Costa, entre outros. Durante 17 anos, ocupou o cargo de diretor musical da Rede Globo e da gravadora Som Livre, tendo lançado artistas hoje consagrados, como Barão Vermelho e Cazuza.
Entrevista
O que High School Musical – O Desafio trouxe do original americano e o que é contribuição nacional?
Em termos musicais, nada foi usado da trilha americana. A versão brasileira possui seis músicas novas e cinco canções adaptadas das versões realizadas na Argentina e no México. Todas adequadas ao universo brasileiro, inclusive nas letras, que não são simples versões.
Que recursos você utilizou para colocar a marca brasileira no musical?
Usei instrumentos e ritmos brasileiros em algumas músicas. Por exemplo, na sequência de abertura foi acrescentado um ritmo de Timbalada.
Como é trabalhar com um elenco tão jovem e ainda em formação?
Maravilhoso. Eles têm uma gana e uma vontade invejável de dar o melhor e chegavam para gravar dispostos a dar o melhor de si.
Existe uma solução que ache especialmente feliz?
Gosto muito da inclusão da Timbalada na abertura e também da aula de Matemática, sem falar na briga musical entre a Paula e o Fellipe com as letras perfeitas da Sylvia Massari.
High School Musical pode ser um marco para o musical brasileiro no cinema? Por quê?
Sem a menor dúvida. A Disney nos desafiou com a sua experiência e toda a equipe liderada pelo Cesinha (diretor) nos motivou a dar o melhor e o resultado ficou memorável. O publico vai poder comprovar isso nos cinemas.
Walkiria Barbosa (Produção | Total Filmes): Fundadora e Diretora-executiva do Festival do Rio e da Total Entertainment, produtora que se estabeleceu a partir do fim dos anos 1990 com a realização de longas-metragens como “Se eu fosse você 1 e 2”, de Daniel Filho, “Divã” de José Alvarenga Jr, “Sexo, Amor e Traição” de Jorge Fernando, entre outros. Walkíria integra também a diretoria do Festival de Búzios, que se tornou um ponto de encontro entre distribuidores e exibidores do Brasil.
Entrevista
Como é cuidar da primeira produção em parceria com a Disney no País?
Foi muito bom, principalmente pelo desafio de trabalhar com um estúdio com tanta expertise neste target, além de ter sido uma experiência maravilhosa e um aprendizado incrível. Levar a frente este projeto foi uma grande oportunidade, tendo em vista que a Total já vinha buscando um produto que falasse ao jovem e que trouxesse questões que dizem respeito a todos, como o primeiro amor, primeiros desafios, experiências na escola, grupos de amigos etc. Nunca imaginamos fazer um produto tão perfeito como esse para debater tais assuntos. Trabalhar junto com a Disney neste projeto, portanto, nos fez adquirir um pouco do conhecimento que eles possuem com relação ao público infanto-juvenil, principalmente em relação aos cuidados na exposição de marcas e na maneira como deve se comportar o elenco, tudo dentro de uma linguagem apropriada para os jovens.
Qual o maior desafio deste projeto?
O Brasil não é um país com tradição na produção de musicais. Em primeiro lugar, o desafio é como realizar um musical, vindo de um formato internacional, e transformá-lo em um produto com a linguagem do Brasil. Contamos com uma equipe de grandes profissionais: o César Rodrigues na direção, a Tânia Nardini com as coreografias, o Maestro Marconi na preparação vocal e nos arranjos vocais… Toda a equipe técnica teve uma preparação intensa. Também foi um desafio encontrar a locação certa para nossa escola dos sonhos. Mas conseguimos nos unir a profissionais muito bons e criamos uma parceria fantástica com a GL Events, que possibilitou produzir a escola que imaginávamos, no pavilhão do Riocentro.
Quais as necessidades específicas de um musical?
Em uma produção de base action comum, o primeiro corte é feito antes da trilha. Já em um musical, a música tem que ser feita antes mesmo das filmagens. Para a produção dos 11 números musicais, composições e letras, foi necessário um incrível trabalho tanto da equipe quanto do elenco. Os atores, além de se prepararem para os papéis, se dedicaram a gravar em estúdio cada música, acompanhados pelo preparador de voz, o Maestro Marconi, para gravar já com a qualidade necessária. Somado a isso, entra a preparação do som, feita também com antecedência, e o trabalho da coreógrafa Tânia Nardini no ensaio dos números de dança (tivemos uma com mais de cem participantes). O tempo todo correndo contra o relógio, pois, em uma produção como esta, uma coisa depende diretamente da outra. Foi necessária uma pré-produção muita poderosa, com muitos ensaios e testes. Esse processo foi uma novidade para nós, mesmo depois de tantos filmes.
Como foi lidar com tantos jovens ao mesmo tempo?
Essa foi a melhor parte. Apesar de jovens, e a maioria sem experiência de dramaturgia audiovisual, eles são e foram, durante todo o processo, profissionais dedicados. Nunca reclamaram, mesmo trabalhando até 15 horas por dia algumas vezes e estavam sempre de muito bom humor. Posso dizer com orgulho que tivemos um resultado extraordinário. A sensação foi de como se estivéssemos voltando para a sala de aula. Uma experiência fantástica, que eu gostaria de ter todos os anos.
Qual sua expectativa para o filme?
Eu acho que tivemos um resultado surpreendente. Trabalhamos duro e conseguimos mais do que o objetivo inicial. Temos um filme família que vai agradar a todos os targets: crianças, adolescentes e também aos adultos, pois o filme traz, além de uma história de amor linda, dilemas importantes e pertinentes. É uma produção emocionante, alegre e com certeza todos sairão do cinema sorrindo e cantando.
Marconi Araújo (Preparação de Voz): Regente, formado pela Universidade de Brasília (UnB) em 1996, compositor, pianista e cantor. Foi solista do Madrigal e do Coro Sinfônico da UnB. Atuou como solista das óperas Aída e Madame Butterfly e interpretou o papel principal dos musicais O Fantasma da Ópera e Jesus Christ Superstar. Foi maestro e preparador vocal do coro lírico das óperas Carmen de Bizet, Alzira de Verdi, La Boheme de Puccini, da Sinfonia dos 500 Anos de Egberto Gismonti e Jorge Antunes, em 2000. Diretor Artístico da Associação Coro Feminino e Masculino de Brasília, foi também o Maestro Diretor responsável pela montagem brasileira do espetáculo Lés Misérables em São Paulo. Esta tarefa importantíssima num musical deste porte ficou a cargo do maestro Marconi Araújo, que acredita que o filme pode ser um marco a história do gênero no Brasil: “Temos filmes musicais brasileiros, mas em outros formatos e com uma trilha muito específica. Esse filme tem uma trilha globalizada, completamente conectada à dramaturgia e às coreografias, formando um bloco único de emoções que chegam ao espectador de maneira singular. Não é uma trilha musical que acompanha o filme, mas sim uma parte integrante da dramaturgia. Por isso, a meu ver, tem tudo para fazer sucesso no Brasil e fora dele”.
Tânia Nardini (Coreografia): Tânia Nardini fez co-direção e preparação corporal de Cambaio, musical de Chico Buarque e Edu Lobo; Coreografou os musicais Rent, A Bela e a Fera, Chicago, entre outros. Fez também trabalhos em vários shows: Prêmio TIM de Música Brasileira (coreógrafa). Em cinema e TV, coreografou O Xangô de Baker Street; O Quinto dos Infernos; Comédia da Vida Privada, Chiquinha Gonzaga; Vida ao Vivo, entre outros. Tânia Nardini é encarregada das coreografias de “High School Musical – O Desafio”. Ela se empolga ao falar do trabalho com o jovem elenco do filme: “Fantástico! É muito prazeroso e gratificante. Me dá um orgulho enorme ver jovens brasileiros tão talentosos e tão interessados em se desenvolver e descobrir outras possibilidades, trabalhando muito duro. Jovens que sabem que talento aliado ao trabalho sério e diário é o único caminho para construir uma carreira sólida e digna”.
Karen Acioly (Assistência de Direção): Atriz, diretora e criadora de projetos como: Prêmio Maria Clara Machado para crianças, Implantação definitiva do teatro infantil nos teatros municipais e o Festival de Contadores de histórias. Autora de peças teatrais premiadas entre elas como “Os Meus Balões” e a “A excêntrica Família Silva” – Eleita pela Revista Veja Rio o melhor espetáculo do ano 2000. A autora, atriz e diretora Karen Acioly assumiu a função de cuidar com especial atenção do elenco do filme. Ela já havia trabalhado com César Rodrigues em projetos de documentário do espetáculo “Bagunça, a Ópera Baby” e também na criação da série “Menino Maluquinho” para a TV. “A ideia é criar um ‘High School Musical’ brasileiro dentro de um filme que já tem uma marca de mercado e que é esperado pelo público justamente por isso. É um primeiro filme musical para jovens, mas, se tivermos sorte e refinamento, abrirá outras portas”, acredita Karen.
Ellen Millet (Figurinos): Ellen Barbosa Milet estreou na TV Globo como assistente da figurinista Marília Carneiro na série A Vida Como Ela É… (1996), dirigida por Daniel Filho.Trabalhou como figurinista do seriado “Mulher” e depois respondeu pelo figurino dos inovadores Os Normais (2001) e Os Aspones (2004), de autoria de Alexandre Machado e Fernanda Young. No cinema fez os figurinos dos filmes Dois Perdidos Numa Noite Suja (2002), de José Joffily, e Zoando na TV (1999), de José Alvarenga Jr., estrelado pela apresentadora Angélica. Ellen Millet é a responsável pelos coloridos e divertidos figurinos do musical. Ela viu todos os três “High School Musical” com a filha e confessa que teve um pouco de trabalho para vestir a rapaziada do filme – principalmente os mais exuberantes Fellipe e Paula. Ela não tem dúvida sobre a identidade brasileira da versão nacional do musical. “Sendo brasileira e filmando no Rio de Janeiro, naturalmente já temos uma cara nacional. A cor da escola, que no filme brasileiro é amarelo, também ajuda a dar um toque bem brazuca”, afirma.