Por Janaina Pereira
Eu sou de uma época em que Star Wars se chamava Guerra nas Estrelas. Foi em 1986 que vi o Episódio IV pela primeira vez, na TV – quase dez anos após a sua estreia nos cinemas. Fiquei encantada com aquele universo de sabres de luz e figuras estranhas, me apaixonei pelo Luke Skywalker (ou seria pelo Han Solo?) e queria ter o R2-D2 em casa. Foi em um modesto aparelho de TV que eu vi também O Império Contra-Ataca (na minha opinião um dos melhores roteiros da história do cinema) e O Retorno de Jedi. Na década de 1990, George Lucas resolveu relançar a trilogia com novas cenas, e só assim pude ver os três filmes no cinema.
Quando uma nova geração descobriu Star Wars – é assim que chamam agora – na década passada, eu já era fã de carteirinha da saga, capaz de repetir diálogos inteiros. Fiquei realmente ansiosa pela trilogia inicial, que se tornou uma grande decepção. Descobrir como o maior vilão do cinema virou Darth Vader foi uma das coisas mais esperadas na minha vida de cinéfila – e como é frustrante a forma com que Lucas achou para contar isso.
Chegamos então a 17 de dezembro de 2015, quando finalmente Star Wars: O Despertar da Força (o tão aguardado Episódio VII) chega aos cinemas. Hoje trabalho como jornalista, e tenho a sorte de ver filmes como esse antes da estreia. Não posso contar detalhes do longa, e nem faria isso com os fãs. Evitei spoiler até o último minuto mas, curiosamente, tudo que seria uma surpresa para mim não foi surpreendente.
Explico: encaro Star Wars como um cinema da melhor qualidade, não como religião, por isso consigo ver os defeitos do filme. Que, na verdade, nem é um defeito, é apenas o simples fato de não ser uma história original. Star Wars: O Despertar da Força nada mais é do que o remake de Guerra nas Estrelas com algumas cenas de O Império Contra-Ataca (não é por acaso que Lawrence Kasdan, roteirista deste, escreve o novo episódio também).
J.J. Abrams (responsável pelo retorno triunfal de Star Trek), que assumiu a nova trilogia, trouxe de volta os personagens icônicos do Episódio IV, cativando os velhos fãs com a imagem de Luke, Leia, Han Solo, Chewbacca, C-3PO e R2-D2 exatos 32 anos depois do último filme deles. A nova trama, que se passa depois da vitória dos Jedis sobre o Império em O Retorno de Jedi, mostra que Luke Skywalker está desaparecido. Repetindo cenas – e sequências inteiras – de Guerra nas Estrelas, o longa apresenta novos personagens e parece não saber bem o que fazer com os antigos.
No meio disso tudo, fica claro que Abrams entende de cinema e acerta na escolha do novo elenco e seus respectivos papeis. A protagonista é uma mulher, Rey (Daisy Ridley), algo impensável em outros tempos, afinal, meninas não curtiam Star Wars (eu sempre me senti uma estranha no ninho por causa disso). Sim, temos a Leia da Carrie Fisher no original, mas ela é uma princesa. Ousada, é verdade, mas princesa. O mocinho é um negro, Finn (John Boyega), algo também impensável em outros tempos pelos motivos que ainda permeiam o cinema (porque continua sendo raro vermos protagonistas negros). E o herói bonachão é Poe (Oscar Isaac), que aparece pouco nesse filme. Os três possuem potencial e carisma para segurar os dois outros longas da saga que estão por vir, mas sem dúvida é em Rey que se deposita toda a esperança de grandes momentos.
Dos novos atores do elenco, recai sobre os ombros de Adam Driver a maior responsabilidade: viver um vilão à altura de Darth Vader. O ator até tem uns bons momentos com seu Kylo Ren, mas sua missão, sem dúvida, é a mais árdua, e por isso mesmo sua atuação consegue ser correta dentro daquilo que lhe foi permitido fazer.
Sobre os personagens antigos não há muito o que dizer. São tão clássicos que falar qualquer coisa poderia estragar esse resgate – porque a memória afetiva sempre vai permanecer intacta, aconteça o que acontecer. E sem dúvida que ter Harrison Ford, Carrie Fischer e Mark Hammill de volta foi uma sacada genial de Mr. Abrams.
Haverá comoção, os fãs vão curtir, novos fãs vão surgir, mas a verdade é que Star Wars: O Despertar da Força não é um novo episódio da saga, e sim um remake do original para as novas gerações (e para as antigas matarem as saudades). Com mais tecnologia, é claro, mas sem aquele clima de novidade que fez de Guerra nas Estrelas a maior trilogia da história lá nos anos 1980.
Vale lembrar que em ano de Mad Max: Estrada da Fúria e Jurassic World, Star Wars: O Despertar da Força fica no mesmo patamar do segundo. Porque Mad Max se reinventou, mas os outros dois são apenas mais do mesmo.